Amaralina

 

A Amaralina era parte de um morgado instituído, no século 16. No século 19, era conhecida como Fazenda da Lagoa (ou Fazenda Alagoa) e recebeu o nome de Amaralina em homenagem ao historiador baiano José Alvares do Amaral.

Outro historiador baiano, João da Silva Campos (Marcos do Passado, 1942), contou que o domínio útil da Fazenda Alagoa era parte integrante das terras do extinto morgado "Casa de Nisa" (veja quadro vermelho, ao lado) e foi adquirido, em 1797, por Alexandre Teotonio de Sousa (veja quadro à esquerda).

Silva Campos citou que, segundo Borges de Barros (provavelmente o Visconde de Pedra Branca, 1780-1855), em 1768, o Marquês de Nisa mandou formar um tanque com as águas captadas nas encostas das elevações circunjacentes e fundar à sua margem um engenho e uma capela anexa à casa dominical.

As águas captadas formaram a lagoa, que ficava atrás da Capela e estava "reduzidíssima" segundo Silva Campos. A Lagoa foi aterrada nos anos '60, mas a capela ainda existe. É a Capela de Nossa Senhora dos Mares da Lagoa. A casa senhorial anexa teve sua arquitetura drasticamente alterada pelo Exército.

Silva Campos contou ainda que, segundo a tradição, existiria um túnel, construído pelos jesuítas, que ligava a Fazenda ao Monte do Conselho, no Rio Vermelho.

Ainda segundo Silva Campos, José Alvares do Amaral teria adquirido a posse da Fazenda, em 5 de outubro de 1854. Amaral, entretanto, teve que litigar com Thomaz da Silva Paranhos, que teria obtido dos herdeiros da Marquesa de Nisa, a cessão daquelas terras. Paranhos era um grande proprietário de terras na Bahia.

O que realmente aconteceu foi provavelmente algo mais complexo, principalmente devido às questões jurídicas que envolviam a posse dessas terras.

Luís Henrique Dias Tavares (Independência do Brasil na Bahia, 2005) citou que (na época da Independência) Manuel Ignacio da Cunha e Menezes (1770-1850) era um sesmeiro das terras do Rio Vermelho, Amaralina e Pituba. Menezes recebeu de D. Pedro II o título de Visconde do Rio Vermelho.

No ano seguinte à morte do Visconde, em 28 de maio de 1851, José Alvares do Amaral casou-se com a filha do Visconde, Ignacia Bernadina da Cunha Menezes (1831-1863). Do casal nasceu José Ignacio da Cunha Amaral (1852-1912), que depois adotou o nome de seu pai José Alvares do Amaral.

Segundo Silva Campos, depois de quarenta anos de luta, José Ignacio da Cunha Amaral arrematou a fazenda Alagoa, em hasta pública (leilão) e a renomeou de Amaralina, em homenagem ao seu pai, então, falecido.

Entretanto, João Amaral, filho de José Ignacio, deu uma versão um tanto diferente em reportagem de 1974 (veja trecho da reportagem, à direita). Segundo essa reportagem, ele teria afirmado que foi seu pai quem construiu a Casa e a Capela. Mas tudo indica que o conjunto seja mesmo do século 18. Por uma versão ou por outra, no final do século 19, José Ignacio da Cunha Amaral seria o proprietário, de fato e de direito, da Fazenda da Lagoa. Tem também a lenda de pescador da Paróquia de São José de Amaralina.

A Fazenda da Lagoa tinha senzala. O jornal Correio da Bahia, de 17 de abril de 1878, relatou que José Alvares do Amaral Filho (José Ignacio) vendeu telhas velhas "tiradas das senzalas arruinadas de sua fazendaLagoa".

Desde os anos 1870, o Rio Vermelho contava com uma linha de bonde. Nas primeiras décadas do século 20, a linha de bonde passava pelo Rio Vermelho e terminava no Largo de Amaralina, onde ficam as baianas de acarajé. Ali tinha uma porteira para uma fazenda de gado, como citou Cid Teixeira. Ao que parece, por volta do final do século 19, parte da Lagoa foi aterrada para a passagem da linha de bonde. Nessa época, a festa da padroeira era bastante animada.

Em 1912, foi inaugurada a Estação Radiotelegraphica de Amaralina (também chamada de Estação Radiographica), instalada por Pedro Liborio de Almeida, inspetor dos Telegraphos. Os trabalhos de sua instalação começou em princípios de 1910 e a Estação já funcionava, em testes, em 1911. Com os melhoramentos feitos em 1913, tornou-se uma das melhores da América do Sul. Usava um sistema Telefunken, torre de 65 metros e alcance de 400 milhas (ou mais de mil milhas, em condições especiais). Foi uma das primeiras do tipo, no Brasil. Era o telégrafo sem fio. Posteriormente sua potência foi aumentada. Tinha importante papel no sistema de comunicação de País. Em 1917, estava integrada ao sistema mundial. Em 1926, emitia boletins meteorológicos, de 4 em 4 horas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, parte da Fazenda Amaralina foi desapropriada, incluindo a Capela e a casa anexa. Na área foi instalado um quartel do Exército. Hoje, abriga o Centro Gerontológico de Amaralina da 6ª Região Militar.

A Lagoa foi aterrada nos anos '60 e o local virou um campo de futebol. Depois plantou-se coqueiros e tornou-se a Praça dos Ex-Combatentes. Em 2016, tem um canteiro de obras na área.

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Turismo em Salvador

 

Igreja Amaralina

 

Trecho da orla de Amaralina, em 2011. Ao fundo, está o Largo de Amaralina, onde ficam as baianas do acarajé. Atrás do fotógrafo fica a Pituba.

 

José Alvares do Amaral (1822-1882)

A esse historiador baiano deve-se o nome do Bairro de Amaralina, dado, em homenagem por seu filho, à Fazenda da Lagoa, segundo Silva Campos.

José Álvares do Amaral nasceu, em 17 de outubro de 1822, na Freguesia de Santo Amaro do Ypitanga, atualmente Lauro de Freitas. Era filho do Comendador Antonio Joaquim Alvares do Amaral (1795-1853), que foi presidente das províncias de Sergipe e do Maranhão. Era irmão do desembargador Manoel Maria do Amaral.

José Álvares do Amaral estudou engenharia, em Coimbra, até o 3° ano, quando retornou à Bahia, em 1843, para assumir um cargo na secretaria do governo.

Casou-se, em 28 de maio de 1851, na Matriz de Sant'Ana com a filha do Visconde do Rio Vermelho, Ignacia Bernadina da Cunha Menezes (1831-1863). Do casal nasceram José Ignacio da Cunha Amaral (1852-1912) e Ignacia Bemvinda da Cunha Amaral (1854-1876).

José Álvares do Amaral foi também jornalista, delegado de polícia em Salvador, durante vários anos, e militou no Partido Liberal. Em 1859, foi um dos fundadores da Sociedade Patriótica Dois de Julho, da qual presidiu, e teve participação na construção do Pavilhão da Lapinha. Sua obra mais conhecida é o Resumo Chronologico e Noticioso da Provincia da Bahia desde o seu descobrimento em 1500, publicada em 1881. Faleceu na região do Rio Vermelho, em 3 de novembro de 1882.

Seu filho, José Ignacio da Cunha Amaral adotou o mesmo nome do pai e faleceu em 27 de junho de 1912. Em 1878, já era conhecido como José Álvares do Amaral Filho.

Nota: existiu também o ilustre médico baiano José Álvares do Amaral, um dos primeiros a se formar na Faculdade de Medicina da Bahia e da qual foi destacado professor, entre 1816 e 1825.

 

Alexandre Teotonio de Sousa

Era tenente-coronel de granadeiros da tropa miliciana da guarnição da Cidade. Ele montou, na propriedade, armação de xaréus e de baleias.

Em 1791, Teotonio de Sousa prendeu, em Camamu, o inconfidente José de Sá Bittencourt. Em 1798, ele foi designado pelo Governador da Bahia para prender os revolucionários da Conjuração Baiana.

Silva Campos relatou que esse antigo dono da Fazenda Alagoa tinha fama de ser perverso e teria construído um calabouço para os escravos, na propriedade. Esse calabouço teria sido entulhado por Amaral, o filho.

 

Acima, a Fazenda Amaralina, em 1928. Vê-se, ao centro, o conjunto Casa e Capela, do século 18, com a Lagoa atrás. Note a linha de bonde que seguia até o atual Largo de Amaralina.

 

 

O Morgado

O regime de morgadio existiu no Brasil do século 17 até 1835, mas suas pendengas jurídicas continuaram pelas décadas seguintes. Um morgado era um patrimônio dado a um senhor, que tinha o direito de explorá-lo, sem poder vendê-lo. Era passado, por herança, de pai para filho. Em Salvador, o mais famoso foi o Morgado de Santa Bárbara, também envolvido em disputas judiciais por boa parte do século 19.

Segundo Silva Campos, o Morgado, citado como Casa de Nisa, foi instituído, no século 16, por Dona Violante da Câmara, mãe do primeiro Conde da Castanheira, D. Antonio de Ataide, ministro de D. João III e primo de Thomé de Sousa, fundador da Cidade do Salvador.

Alguns nobres acumulavam mais de um título e os casamentos complicavam as heranças. Assim, o direito sobre esse morgado estaria, no século 18, com os nobres da Casa de Nisa.

Cabe aqui observar que, durante o domínio português, o conceito de propriedade não se aplicava às concessões de sesmarias e morgados, esses eram uma espécie de relação feudal, que mudou com o Brasil Independente, daí, as disputas judiciais.

 

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A Capela de Nossa Senhora dos Mares da Lagoa, fundada no século 18, encampada pela 6ª Região Militar do Exército.

 

Mapa Amaralina

 

Fazenda

 

Alaíde Amaral, quase centenária, esposa de José Amaral, em foto para o Jornal da Bahia, publicada em 23/9/1974. Ela lembrava da animada festa da padroeira de Amaralina.

 

 

Estação Radiotelegraphica de Amaralina, em 1913, após os melhoramentos daquele ano, com nova antena. À direita está a casa de máquinas, que passou a abrigar um gerador diesel de 20 HP. Foto publicada em O Jornal (Rio de Janeiro), de 3 de julho de 1921.

 

Trecho da reportagem do Jornal da Bahia sobre a Amaralina, publicado em 23/9/1974.

 

Amaralina

 

Por Jonildo Bacelar

 

Salvador

 

 

Alaide Amaral

 

Estação Radiotelegrafica

 

Reportagem

 

Amaralina

 

 

 

 

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