Quartel dos Aflitos

 

O Quartel dos Aflitos é um patrimônio histórico do final do século 17, que sofreu alterações em sua fachada, ganhando elementos neogóticos. Abriga o Comando Geral e o Serviço de Inteligência da Polícia Militar da Bahia. Tem seu acesso principal pelo Largo dos Aflitos.

De acordo com José de Mirales (História Militar do Brasil, ....1762), o prédio atual começou a ser construído no governo de D. João de Lencastre (1694-1702), citando suas realizações (p.158):... e tambem no Arrebalde de S. P.º desta Cid.e a famosa Caza de fabricar e refinar a Polvora q'. ainda existe, posto q' sem uzo.

O prédio do Quartel foi concluído, em 1705, em sua primeira arquitetura, como demonstra a Planta de Caldas.

Entretanto, Oséas Moreira de Araújo (Notícias sobre a Polícia Militar da Bahia no Século XIX, 1949), citou que o Quartel dos Aflitos foi mandado edificar, em 1639, pelo Governador D. Fernando de Mascarenhas, Conde da Torre. Seria a Casa do Trem ou Trem Militar, que fornecia armas e munições para as demais fortalezas. Embora o livro do Major Araújo seja rico em informações preciosas e importante fonte bibliográfica, existem problemas em sua referência à edificação do Quartel. O Major citou apenas a obra de Mirales (indicada acima) para suas informações antes do século 19, embora não fique claro que o ano de 1639, venha dela. Citou especialmente o parágrafo 189, p. 74, em que Mirales referiu-se a "...manifesta intellig.ª de hua famoza caza do Trem...". Mas como vimos, acima, o Quartel dos Aflitos foi referido por Mirales como a famosa Caza de fabricar e refinar a Polvora q'. ainda existe, posto q' sem uzo. Assim, a Casa do Trem de Mirales seria outra que não a dos Aflitos.

Essas oficinas eram uma fábrica e refinaria de pólvora e foi construída afastada de outros edifícios devido ao perigo de incêndios. Tinha a arquitetura externa de uma fortaleza, mas sem espaço interno adequado para abrigar e movimentar peças de artilharia pesada.

Rocha Pitta (História da América Portuguesa, escrito por volta de 1724), citou que "Em dois sítios pouco distantes da cidade se veem duas magníficas e reais Casas de Polvora; uma em que se fabrica, outra em que se guarda, e uma grande casa em que se recolhe o trem."

Em meados do século 18, a Casa da Pólvora havia se transformado em hospedagem e hospital para estrangeiros, como citado por Caldas (Noticia Geral..., 1759):

"Alem do Arsenal ha duas Cazas de polvora nas extremidades ou arrebaldes da Cidade, a saber; húa em que se guarda a polvora, que se condus da Corte para esta Cidade para dela se distribuir pelaz Fortalezas, e se achaõ por ora nela 380 barris de polvora [possivelmente a Casa de Pólvora do Desterro].

A outra era em que antigamente se fabricava a polvora e está situada proxima a Fortaleza de S. Pedro com os repartimentos, e divizoens, que eraõ precizas para esta manufatura; hoje naõ tem exercicio porque se naõ fabrica polvora neste Pais, e serve esta Casa de hospedagem e hospital aos Estrangeiros que impelidos das vexasoens navaes vem surdir neste posto, naqual pondoselhe húa guarda na porta lhe impedem a comunicasaõ, e comercio com os habitantes naquele pouco tempo que rezidem em reparar as suas ruinas, oqual tempo lhe esta determinado por ordens e decretos de S. Magde, que inviolavelmente se guardam."

Segundo Mirales, outra casa para se guardar a pólvora e munições foi construída no Reduto do Rio Vermelho, durante o governo do 6º Conde dos Arcos (1755-1760).

Vilhena (1801) referiu-se ao edifício como Casa da Pólvora e Trem de Artilharia. Em seu capítulo sobre defesa, Vilhena relacionou as peças de artilharia do sistema de defesa da Cidade, mas não citou a existência de qualquer peça de artilharia nesse local. Ao que tudo indica, as antigas Oficinas da Pólvora assumiram a função de Casa do Trem no final do século 18.

Em 1810, foi inaugurado o Passeio Público, em área vizinha ao Quartel.

Em 19 de fevereiro de 1822, segundo Accioli, durante o Movimento Constitucionalista da Bahia, houve vivo fogo de mosquetaria e artilharia vindo do Trem dos Aflitos. As tropas facciosas mantinham três peças de artilharia na Casa do Trem que "fizeram um terrível fogo", mas foi tomada pelo tenente coronel Francisco José Pereira. Esse talvez seja o único exemplo conhecido do disparo de fogo diretamente do Quartel.

Em 1836, de acordo com o Major Araújo, o Trem dos Aflitos abrigou 146 imigrantes portugueses.

Em 1837, o Trem dos Aflitos foi ocupado pelos revolucionários da Sabinada, tomaram as armas e instalaram uma fabrica de cartuchos. Foi retomado pelo Exército Restaurador, em 15 de março de 1838.

O Hospital Militar da Guarnição da Bahia. A partir de 1856, as instalações do Quartel dos Aflitos funcionaram como hospital militar. Foi referido como Hospital Regimental no Trem dos Aflictos pelo Capitão d'Engenheiros Manoel da Silva Pereira, em relatório de 9 de abril de 1856, ao Presidente da Província, informando a conclusão de obras no pavimento térreo, pagas pelo Arsenal de Guerra. Em sua Fala à Assembleia, de 14 de maio de 1856, o Presidente citou que as obras foram feitas "afim de passar o hospital Regimental para o antigo Trem dos Afflictos". O hospital funcionava anteriormente no Quartel da Palma e foi transferido, em 1855, para o Convento de S. Bento, devido a uma epidemia.

Em 1871, em sua Fala à Assembleia, o Barão de S. Lourenço, então Presidente da Província, observou a conveniência de mudança do Hospital, após a morte de seis soldados por febre amarela na enfermaria, considerada insuficiente. Em sua Fala à Assembleia, de 1º de março de 1872, o Presidente da Província João Antonio de Araujo Freitas Henriques, também citou a necessidade da remoção do Hospital Militar, que seria demolido e a área do Passeio Público seria aumentada. Em 1874, o Presidente da Província Cruz Machado, em sua Fala à Assembleia, reforçou a necessidade de mudança do Hospital, por falta de cômodos. A arquitetura do Prédio, estilo fortificação, era também inadequada, faltavam janelas para renovação de ar. Foi adquirido para tal, o Palacete das Pitangueiras, em Brotas, mas ainda estava em obras de adaptação. Naquele ano de 1874, passaram pelo Hospital Militar dos Aflitos, 1143 doentes.

Finalmente, em 24 de fevereiro de 1876, o Hospital dos Aflitos foi transferido para o Hospital Militar nas Pitangueiras (atual Hospital Geral de Salvador), em cumprimento do Aviso do Ministério da Guerra, de 19 de janeiro. Nesse mesmo ano, o Batalhão, que estava no Quartel da Palma, foi transferido para o dos Aflitos, que foi reformado.

Em 1887, o antigo Trem dos Aflitos estava em ruínas e o Presidente da Província tencionava demoli-lo, com apoio da Câmara Municipal. O Passeio Público seria ampliado.

Entretanto, em 28 de agosto de 1893, o Sr. Romualdo Francisco da Silva foi contratado para reformar e ampliar o antigo Trem dos Aflitos, para receber os dois Corpos de Infantaria do Regimento Policial, instalados na Mouraria.

Em 27 de novembro de 1894, de acordo com o Major Araújo, o Primeiro Corpo passou para o Quartel dos Aflitos, que ficou, assim, dividido: dois salões para companhias, quatro divisões para reservas, sala médica, penitenciária e xadrez. Na ala esquerda ficavam a Casa de Ordem, Estado Maior, reserva e arrecadação. Havia também espaço para rancho e sala de música. Instalaram-se, posteriormente, o Segundo, o Terceiro, o Quarto e o Quinto corpos. Este último foi transferido depois para a Ladeira do Baluarte, no Santo Antônio.

Em 1914, o Quartel aparece na Revista Fon-Fon, com dois pavimentos e uma fachada em estilo eclético (foto ao lado), provavelmente da última reforma de 1893. Em 1920, a corporação foi transferida para os Barris, no Quartel da Cavalaria. Em 1937, o prédio foi restaurado e novamente ampliado. Sua fachada ganhou elementos neogóticos. Em 1938, o Comando Militar retornou ao Quartel dos Aflitos.

Por Jonildo Bacelar

 

Aflitos

 

Este era o Quartel, em meados do século 18, representada no Prospecto de Caldas como "Casa onde se fabricava a pólvora".

 

Quartel Aflitos

 

Palácio Rio Branco

 

O Nome do Edifício

O nome do atual Quartel dos Aflitos tem sido historicamente um problema. Com o passar do tempo, essas instalações foram referidas como:

- Casa do Trem (século 17). Trem é aqui usado no sentido de conjunto, significando um conjunto de recursos bélicos usados pela Artilharia. Em algumas cidades portuguesas existia a Casa do Trem de Artilharia, uma espécie de oficina, almoxarifado e centro de distribuição de materiais e equipamentos bélicos.

- Oficinas da Pólvora,

- Casa de fabricar e refinar a Pólvora,

- Casa da Pólvora (século 18),

- Casa da Pólvora e Trem de Artilharia,

- Casa do Trem Militar dos Aflitos,

- Antigo Trem dos Aflitos (século 19),

- Antigo Trem de Guerra,

- Antigo depósito da pólvora,

- Hospital Militar dos Aflitos,

- Quartel dos Aflitos (século 20).

Mas é na Fala do Presidente da Província, de 1877, que fica obvio o problema na denominação do prédio em questão, referido como "Edificio dos Afflictos em que foi hospital militar".

Para complicar, existiu também a Casa da Pólvora do Desterro e uma outra Casa do Trem. Segundo Mirales, essa Casa abrigava 7 peças de artilharia montadas em carretas de campanha, 4 carros manchegos e 8 carretas de sobressalentes. Existia ainda a Casa de Fogos de Artifício e mais dois armazéns de armas. Depois da Invasão Holandesa, Salvador tornou-se uma das cidades mais bem fortificadas do mundo.

 

Arquitetura quartel

 

Arquitetura antiga Quartel

 

Forte mar

 

Projeto

 

Forte São Pedro

 

Aqui, as mesmas instalações (60) indicadas no Prospecto de Vilhena, de 1801, como "Caza da Polvora, e Trem de Artilharia". A Igreja dos Aflitos é o nº 62 e 61 é a "Caza dos Fogos".

 

Forte Barbalho

 

Largo dos Aflitos

 

O Quartel em foto publicada em 1914. Essa fachada é provavelmente de 1893.

 

O Quartel no Google Maps, mantém a mesma arquitetura básica de 1705.

 

Parte da planta da Casa da Pólvora, de 1756, por José A. Caldas. Sobre o ornamento do pórtico havia a inscrição:

"O muito alto e poderozo Rey, e Sñr nosso Dom Pedro 2.º de Portugal mandou fazer esta obra de Ofecinas da polvora, acusta da fazenda Real, p.lo Gov.or, e Capp.am Gn.al deste estado D. Rodrigo da Costa. anno de 1705."

 

Foto antiga do Largo dos Aflitos. A fachada do Quartel registrava o ano de 1937, referente à reforma, mas o prédio é de 1705.

 

Bahia

 

Salvador

 

Fachada do Quartel de frente para o Largo dos Aflitos, com o Chafariz da Cabocla, no centro.

 

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